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O vencedor

Nunca fui um desportista dos mais habilidosos, contudo, sempre gostei de esportes – muito mais de acompanha-los pela TV do que propriamente pratica-los – talvez por isso, o campeonato pan-americano que se desenrola na cidade mexicana de Guadalajara, me encha tanto os olhos!

Vejo competições desta natureza como imensas peças teatrais, onde o protagonista é sempre a alma humana e a cada ato temos vislumbres dos extremos que esta pode alcançar. Enquanto alguns exultam, orgulhosos das medalhas que pendem em seus pescoços, outros escondem o rosto com as mãos, lamuriosos por não terem alcançado o êxito almejado.

Creio que além do sentimento de falha, os atletas vencidos vivenciam uma crise de significância, pois raramente alguém que termina uma prova em quarto lugar, será louvado por seus esforços heroicos. A história da humanidade quase sempre foi contada pelos vencedores. Os derrotados e conquistados dificilmente tiveram a oportunidade de dar suas versões dos fatos.

As competições não se restringem aos eventos esportivos, pois desde muito cedo, sentimo-nos pressionados a provar que somos mais valorosos que os nossos semelhantes. Basta observar um grupo de jovens mães para vermos como cada uma delas se gaba por seu rebento ter engatinhado ou dito as primeiras palavras antes que os demais. Na escola, cobiçamos ser o melhor aluno da classe, o craque do time de  futebol ou o mais eloquente orador. E por fim, já na vida adulta, vemos nossos colegas de trabalho mais como adversários do que como companheiros.

A rivalidade entre seres humanos não é uma invenção moderna, ela remonta a tempos ancestrais, desde que Caim percebeu que a oferta de seu irmão foi melhor aceita por Deus que a sua própria (Gênesis 4:5). Aparentemente o sangue derramado de Abel marcou indelevelmente a alma humana, com efeito, que até a nossa piedade é permeada por um sentimento de superioridade, pois, ficamos aliviados ao encontrar uma pessoa em uma situação mais complicada que a nossa.  Não é difícil ouvir de amigos que tentam nos consolar: “existe gente em condições piores que a sua”.

O “cristianismo” hodierno ao invés de coibir (Gálatas 5:26), parece incentivar a emulação. Alguns líderes fazem uso de trechos da Bíblia – devidamente tirados do contexto – para incutir na mente de seu secto que estes devem, por obrigação, ser sempre mais bem sucedidos que os demais. E na corrida desenfreada para ser um “mais que vencedor”, os ditos cristãos ficam mais preocupados em romper uma fita com o peito do que quebrar as algemas que manietam os pés do próximo.

Grande parte dos ditos evangélicos anseia mais pelo palco do que pela cruz! Digo porém que deveríamos buscar o exemplo de Jesus, que apesar de ter a mente voltada para o céu, mantinha Seus olhos atentos à aqueles que caiam as margens do caminho. Cristo sentia-se irresistivelmente atraído por “perdedores”! E Ele não os olhava como pessoas de segunda classe, e sim, dava-lhes o devido valor.

“E, voltando-se para a mulher, disse a Simão: Vês tu esta mulher? Entrei em tua casa, e não me deste água para os pés; mas esta regou-me os pés com lágrimas, e mos enxugou com os seus cabelos.
Não me deste ósculo, mas esta, desde que entrou, não tem cessado de me beijar os pés.
Não me ungiste a cabeça com óleo, mas esta ungiu-me os pés com unguento. ” (Lucas 7:44-46)

Diante disto, sinto-me constrangido pelo modelo de Cristo! Gostaria eu de não ter que competir, de não ter que correr tanto, de dedicar mais tempo as pessoas e menos as coisas…

Eu que já não quero mais ser um vencedor
Levo a vida devagar pra não faltar amor

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