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Muito prazer, meu nome é otário…

Dom Quixote

Muito prazer, meu nome é otário
Vindo de outros tempos mas sempre no horário
Peixe fora d’água, borboletas no aquário
Muito prazer, meu nome é otário
Na ponta dos cascos e fora do páreo
Puro sangue, puxando carroça

Um prazer cada vez mais raro
Aerodinâmica num tanque de guerra,
Vaidades que a terra um dia há de comer.
“Ás” de Espadas fora do baralho
Grandes negócios, pequeno empresário.

Muito prazer me chamam de otário
Por amor às causas perdidas.

Tudo bem, até pode ser
Que os dragões sejam moinhos de vento
Tudo bem, seja o que for
Seja por amor às causas perdidas
Por amor às causas perdidas

Tudo bem… Até pode ser
Que os dragões sejam moinhos de vento
Muito prazer… Ao seu dispor
Se for por amor às causas perdidas
Por amor às causas perdidas

-x-

Uma singela homenagem a todos aqueles “otários” que ainda persistem em lutar pelas causa “perdidas”. Se pensar como eu penso é ser otário, então… Muito prazer, meu nome é otário!

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Ridi, Pagliaccio!

Nós, seres humanos, prosseguimos em nossa incansável (infindável, diria C.S Lewis) busca pela felicidade. Somos animais essencialmente sociais, por este motivo, uma grande parcela de nossos momentos de contentamento (ou de desgosto) estão relacionados aos grupos dos quais fazemos parte (família, amigos, igreja, colegas de trabalho, etc…). Ciente deste fato, Tom Jobim compôs “Wave”, canção que eternizou em seus versos a afirmação categórica: “é impossível ser feliz sozinho”.

Acredito que qualquer homo sapiens com mais de três anos de idade já foi confrontado com alguns dos rigores e delicias da vida em bando. Viver em comunidade é, simultaneamente, prazeroso e estressante, pois, ao passo em que nos aconchegamos manhosamente no seio do rebanho, nos sentimos visceralmente impelidos a superar as expectativas de nossos semelhantes, demonstrar nosso valor e agradar a todos que nos rodeiam. Talvez seja este o motivo de, paradoxalmente,  levarmos o ato de “fazer rir” tão a sério.

Uma coisa é certa, apesar dos nossos talentos e esforços, nem todos rirão de nossas piadas, mais cedo ou mais tarde a rejeição mostrará sua face carrancuda. É neste momento que descobrimos o quão mágico pode ser um estojo de “maquiagem”! Aperfeiçoamos ao longo do tempo a capacidade de esconder os traços “indesejáveis” de nossa personalidade debaixo de grossas camadas de “pó de arroz”. Esta é a gênese  daquele que Brennan Manning chamou de “o impostor que vive em mim”.

Os palhaços são a prova viva de que – apesar da biologia contradizer esta tese – o mimetismo é uma capacidade inerente a espécie humana. Eles são profissionais da graça, seu ofício é fazer rir, portanto, por mais dolorosas que sejam as feridas em seus corações, precisam sublimar tais aflições e entrar no picadeiro com um largo sorriso no rosto.

Este é o drama que a ópera “Il Pagliacci” (o palhaço, em italiano) nos apresenta: Um velho palhaço traído por seu grande amor, que mesmo em meio a dor, é obrigado a se apresentar.

Tu és um homem?
palhaço tu és!
Coloque seu traje,
pó no seu rosto.
As pessoas pagam e querem rir.

ridi, Pagliaccio, e as pessoas irão aplaudir!

Assim como os bufões circenses, nós transformamos nossas vidas numa labuta diária para impressionar os que nos cercam, lutando contra nossos traços de caráter, que apesar de nos distinguirem, não são tão vistosos ou atraentes aos olhos  alheios.

Será que neste mundo onde a performance é  crucial, existe espaço para a autenticidade? Nós realmente precisamos ser aceitos por todos para levarmos uma vida plena e feliz? Brennan Manning, nos dá uma sugestão:

“O que acontece quando pecamos e falhamos, quando nossos sonhos se despedaçam, quando os investimentos se frustram, quando somos tratados com desconfiança? O que acontece quando precisamos confrontar nossa condição humana? Entretanto Deus ama quem de fato somos – quer gostemos disso ou não. Deus não apenas perdoa e esquece nossos atos vergonhosos, mas também transforma a escuridão em luz. Todas as coisas, em conjunto, cooperam para o bem daqueles que amam a Deus – ‘até mesmo’, acrescentou Santo Agostinho, ‘nossos pecados’.” (trecho do livro “O Impostor que vive em mim”).

A imagem que devemos nutrir a respeito de nós mesmo, segundo o autor de “O Evangelho Maltrapilho”, é de pessoas “apaixonadamente amadas por Deus”, e isto deve nos bastar! Ao adquirir tal consciência, não deveríamos mais sentir a necessidade de falsear nosso modo de ser. Um certo sábio irlandês uma vez escreveu que “Quanto mais deixamos que Deus assuma o controle sobre nós, mais autênticos nos tornamos”.

Portanto, caros irmãos, se as lágrimas quiserem brotar em seus olhos, que elas rolem a vontade, pois por vezes, elas funcionam como excelentes removedores de maquiagem.

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O Ser cristão

Creio que por ocasião da proximidade do dia 31 de outubro, aniversário da Reforma Protestante, alguns irmãos começaram a postar suas mensagens no Twitter acompanhadas da hashtag #OrgulhoDeSerCristao. Um outro grupo no entanto, passou a discordar destes primeiros, achando que nada que se refira a “orgulho” combina com o “ser cristão”. A despeito desta discussão, passei a meditar sobre o que é “ser cristão” de fato.  Em um passado não muito distante, eu enumeraria facilmente um sem número de traços que caracterizam um “cristão”, hoje contudo, tenho mais perguntas do que respostas…

  • Cristão é alguém que faz uso da Bíblia…

Acho que não, pois outros grupos religiosos, como os Espiritas Kardecistas, fazem uso da Bíblia em diversos níveis.

  • Cristão é alguém que admira e procura seguir o modelo de Cristo…
Mais uma vez, não acho que esta propriedade defina alguém como cristão, pois existem ateus menos preconceituosos que creem na existência do Cristo histórico e procuram seguir, de alguma forma, o Seu exemplo moral.
  • Cristão é alguém que crê na divindade de Cristo…
Aceitar a plena divindade de Jesus (Colossenses 2:9), assim como entender que Ele veio como homem mortal (2 João 1:7), são coisas importantes para fé cristã, todavia, alguns seguidores de cultos afro-brasileiros também acreditam na “divindade” de Cristo.
  • Cristão é alguém que não tem vícios…
Não creio que isto por si só distingua alguém como cristão, pois existem vários grupos ascéticos e movimentos sócio-culturais como o Straight Edge, que propõem uma vida livre de drogas, sejam elas lícitas ou ilícitas. Tal abstinência na maioria das vezes não tem motivação religiosa, e sim, ideológica. No outro extremo, vemos homens como Charles Spurgeon, que fumava, e C. S. Lewis, que costumava participar de animadas reuniões em um típico pub inglês, regadas a quantidades nem sempre moderadas de scotch. Estou convicto de que o exemplo do apóstolo Paulo (1 Coríntios 6:12) deve ser acatado e seguido, mas certamente, ter ou não vícios não faz de você um cristão.
  • Cristão é alguém que vive em santidade…
Sei que Deus nos chama a santidade (1 Pedro 1:15), entretanto, monges budistas e rishis indus podem facilmente ser classificados como “separados deste mundo”…
  • Cristão é alguém que ama…
Acho uma temeridade crer que todas as pessoas não cristãs do mundo são privadas deste sentimento, ponto.

Diante disto, compreendo que se faz necessário recorrer as origens da palavra “cristão”. Esta denominação foi dada pela primeira vez a alguns discípulos de Jesus que pregavam o Evangelho em uma região conhecida na antiguidade como Antioquia, na atual Turquia.  A grosso modo, a palavra “cristão” designa alguém que é um “pequeno Cristo” ou uma “imagem de Cristo”.

É maravilhoso constatar que este epíteto não teve origem entre os próprios seguidores de Cristo. Outras pessoas que não partilhavam da mesma fé, viram nas vidas daqueles crentes o transbordar do Espírito de Jesus!

E como este “transbordar” se manifestava? Pois apesar dos recentes apelos a uniformidade – de como devemos nos vestir, falar e agir – os próprios apóstolos nos forneceram um exemplo vivo da diversidade humana que existia na igreja primitiva.

Finalmente, acredito que o Senhor nos amou primeiro (1 João 4:19), outrossim, estou certo que o “ser cristão” vem de Deus para o homem (1 Tessalonicenses 1:4), e por este motivo, não é algo que possa ser quantificado, qualificado e muito menos, “reproduzido”.

“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus.” (Efésios 2:8)

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O vencedor

Nunca fui um desportista dos mais habilidosos, contudo, sempre gostei de esportes – muito mais de acompanha-los pela TV do que propriamente pratica-los – talvez por isso, o campeonato pan-americano que se desenrola na cidade mexicana de Guadalajara, me encha tanto os olhos!

Vejo competições desta natureza como imensas peças teatrais, onde o protagonista é sempre a alma humana e a cada ato temos vislumbres dos extremos que esta pode alcançar. Enquanto alguns exultam, orgulhosos das medalhas que pendem em seus pescoços, outros escondem o rosto com as mãos, lamuriosos por não terem alcançado o êxito almejado.

Creio que além do sentimento de falha, os atletas vencidos vivenciam uma crise de significância, pois raramente alguém que termina uma prova em quarto lugar, será louvado por seus esforços heroicos. A história da humanidade quase sempre foi contada pelos vencedores. Os derrotados e conquistados dificilmente tiveram a oportunidade de dar suas versões dos fatos.

As competições não se restringem aos eventos esportivos, pois desde muito cedo, sentimo-nos pressionados a provar que somos mais valorosos que os nossos semelhantes. Basta observar um grupo de jovens mães para vermos como cada uma delas se gaba por seu rebento ter engatinhado ou dito as primeiras palavras antes que os demais. Na escola, cobiçamos ser o melhor aluno da classe, o craque do time de  futebol ou o mais eloquente orador. E por fim, já na vida adulta, vemos nossos colegas de trabalho mais como adversários do que como companheiros.

A rivalidade entre seres humanos não é uma invenção moderna, ela remonta a tempos ancestrais, desde que Caim percebeu que a oferta de seu irmão foi melhor aceita por Deus que a sua própria (Gênesis 4:5). Aparentemente o sangue derramado de Abel marcou indelevelmente a alma humana, com efeito, que até a nossa piedade é permeada por um sentimento de superioridade, pois, ficamos aliviados ao encontrar uma pessoa em uma situação mais complicada que a nossa.  Não é difícil ouvir de amigos que tentam nos consolar: “existe gente em condições piores que a sua”.

O “cristianismo” hodierno ao invés de coibir (Gálatas 5:26), parece incentivar a emulação. Alguns líderes fazem uso de trechos da Bíblia – devidamente tirados do contexto – para incutir na mente de seu secto que estes devem, por obrigação, ser sempre mais bem sucedidos que os demais. E na corrida desenfreada para ser um “mais que vencedor”, os ditos cristãos ficam mais preocupados em romper uma fita com o peito do que quebrar as algemas que manietam os pés do próximo.

Grande parte dos ditos evangélicos anseia mais pelo palco do que pela cruz! Digo porém que deveríamos buscar o exemplo de Jesus, que apesar de ter a mente voltada para o céu, mantinha Seus olhos atentos à aqueles que caiam as margens do caminho. Cristo sentia-se irresistivelmente atraído por “perdedores”! E Ele não os olhava como pessoas de segunda classe, e sim, dava-lhes o devido valor.

“E, voltando-se para a mulher, disse a Simão: Vês tu esta mulher? Entrei em tua casa, e não me deste água para os pés; mas esta regou-me os pés com lágrimas, e mos enxugou com os seus cabelos.
Não me deste ósculo, mas esta, desde que entrou, não tem cessado de me beijar os pés.
Não me ungiste a cabeça com óleo, mas esta ungiu-me os pés com unguento. ” (Lucas 7:44-46)

Diante disto, sinto-me constrangido pelo modelo de Cristo! Gostaria eu de não ter que competir, de não ter que correr tanto, de dedicar mais tempo as pessoas e menos as coisas…

Eu que já não quero mais ser um vencedor
Levo a vida devagar pra não faltar amor

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A matemática do homem

Pasto > Mato

Lenha > Árvore

Marfim > Elefante

Petróleo > Oceano

Refrigerante > Água

Entretenimento > Dignidade

Diamante > Mão

Guerra > Paz

Coisas > Pessoas

Eu > Próximo

Justiça > Misericórdia

***

Concordo com Karl Barth quando ele disse que “Deus é totalmente outro…”

“Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o SENHOR. Porque assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos.” (Isaías 55:8,9)

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