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Santa Irrelevância!!

Não sou telespectador de novelas nem pretendo assistir “Salve Jorge”. Não por conta das sementes de terror lançadas no solo fértil das mentes supersticiosas dos evangélicos, muito menos por conta da proposta de boicote que tomou de assalto as redes sociais nestes últimos dias, mas por não me sentir atraído por mais esta “trama étnica” de Glória Perez.

EDIT: Para os que não viram, eis umas das imagens que circularam pelas redes sociais, conclamando os crentes a boicotar o folhetim global.

“Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como: Não toques, não proves, não manuseies?” (Colossenses 2:20,21)

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Quem dizem os homens ser o Filho do homem

Fico imaginando que respostas Jesus ouviria hoje, caso repetisse a pergunta feita aos discípulos em sua chegada a Cesareia de Filipe (Mateus 16:13):

“…Quem dizem os homens ser o Filho do homem?”

Posso arriscar alguns palpites:

  • Tu é aquele que veio restaurar nossa saúde e nos prover dinheiro e bens!
  • Tu é aquele que veio sobrecarregar o julgo que está sobre nossas costas, para que por meio dos nossos esforços, alcancemos a iluminação.
  • Tu é aquele que veio promover um golpe de estado, afim de depor este governo perverso e corrupto que tanto nos oprime.
  • Tu é aquele que veio revogar estas leis hipócritas que proíbem o consumo da maconha.

Diante de tais afirmações, sou obrigado a concordar com o que disse o conhecido ateu e detrator do cristianismo, Friedrich Nietzsche:

“E o homem, em seu orgulho, criou deus, a sua imagem e semelhança”

Todos querem um “cristo” para chamar de seu! Pode até parecer uma antinomia, mas arrisco dizer que até aqueles que rejeitam a fé cristã, não se sentem a vontade para negar a beleza, a força e a eficácia dos ensinamentos de Jesus. Como resposta a estes conflitos cognitivos, tais pessoas optam por moldar um “Jesus” que se adeque a suas vontades e verdades.

Dentre os diversos “cristos” que peregrinam pelo mundo afora, talvez o mais conhecido e popular seja o “Jesus Mestre da Moral”. Antes de falar dele, precisamos estabelecer o que é de fato, a moral.

A compreensão de moral não é universal, pois se baseia em um conjunto de regras fixadas por um grupo social específico; muito menos atemporal, pois tais preceitos estão subordinados ao tempo. Tentarei exemplificar:

  • No Brasil, a bigamia além de não ser bem “aceita” por nossa sociedade, é considerada crime, passível a pena de reclusão de 2 a 6 anos, já na República da Chechênia, é vista com naturalidade.
  • Também em nosso país, até os idos de 1888, manter uma pessoas em condições aviltantes, trabalhando em sua propriedade não era visto como algo absurdo.

O “Jesus Mestre da Moral” é palatável, agradável aos ouvidos e subsiste envolto em um manto resplandecente de “piedade” (2 Timóteo 3:5). Ele não é tão exclusivista e auto-referente quanto aquele homem “desagradável” que foi pregado na cruz (João 14:6). Não é incomum vê-lo ao lado de outros notáveis, como um igual. Seu único defeito é o de cobrar insistentemente – e não raras as vezes valendo-se da força – o que lhe é devido.

Já o Jesus da Cruz está ligado as coisas eternas, e por isso Ele mantém o “incomodo” hábito de superar a moral, de ir além das débeis convenções estabelecidas pelos senhores da lei.

“…Aquele que de entre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela. E, endireitando-se Jesus, e não vendo ninguém mais do que a mulher, disse-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? E ela disse: Ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem eu também te condeno; vai-te, e não peques mais.” (João 8:7,10,11)

Fala-se muito de Jesus, entretanto, toda esta palração tem gerado poucas oportunidades de refletir sobre o que Jesus disse a respeito de si mesmo.

“Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá.” (João 11:25)

“Eu sou a luz que vim ao mundo, para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas.” (João 12:46)

“Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas.” (João 10:11)

“Eu e o Pai somos um.” (João 10:30)

C.S. Lewis dizia que tais afirmações, tão ousadas e claras, tiram de nós qualquer espaço para manobrar ou produzir concepções a respeito de Jesus.

“Um homem que (…) dissesse aquilo que Cristo dizia (…) ou seria um lunático (…) ou então teria que ser o próprio demônio das profundezas do Inferno. (…) Você pode recluí-lo num hospício achá-lo maluco, cuspir nele e matá-lo por considerá-lo um demônio, ou cair a seus pés e chamar-lhe Senhor e Deus.” (C.S. Lewis)

A historia é testemunha do quão simples é gerar (espontaneamente ou não) um “messias” dentro da nossa subjetividade e andar sobre suas pegadas. No entanto, aquele que e O Caminho, A Verdade e A Vida, adverte.

“Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas, e farão tão grandes sinais e prodígios que, se possível fora, enganariam até os escolhidos.“ (Mateus 24:24)

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Eu tenho um sonho…

by ~DarkCalamity

Nestes tempos em que as disciplinas de auto-conhecimento e a auto-ajuda estão em alta, tem-se celebrado os sonhos como nunca. O mundo encontra-se povoado por sonhadores, mas poucos são como Martin Luther King Jr…

“Eu tenho um sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado de sua crença – nós celebraremos estas verdades e elas serão claras para todos, que os homens são criados iguais.

Eu tenho um sonho que um dia nas colinas vermelhas da Geórgia os filhos dos descendentes de escravos e os filhos dos descendentes dos donos de escravos poderão se sentar junto à mesa da fraternidade.”

O reverendo King sonhou com um mundo igualitário, entretanto, quando falamos de sonhos, quase sempre estamos nos referindo a satisfação da fome do nosso próprio estômago.

Existem inúmeras canções que falam de forças opositoras que tentam a todo custo assassinar nossos sonhos. Estas músicas costumam sacralizar nossas aspirações, tratando-as como coisas muito preciosas e que não devemos medir esforços para preservá-las. Quando interiorizamos tais idéias e a vida segue um curso indesejado, nos sentimos injustiçados, daí, passamos a clamar a Deus para que Ele derrame as taças de Sua Santa Ira sobre esta existência, que teima em seguir seus próprios caminhos.

É curioso observar que sempre que Deus concedeu sonhos a alguém foi em nome de um bem coletivo, e não de propósitos egoístas (Tiago 4:3).

  • Os sonhos do Faraó do Egito, interpretados por José, serviram para salvaguardar a família de Jacó e o próprio Egito da fome (Gênesis 41:2).
  • Os sonhos de Daniel forneceram uma antevisão do advento, morte e ressurreição do Ungido de Deus (Cristo) (Daniel 9:24-27).

Não digo com isso que está vetado o nosso direito de sonhar, longe de mim pensar assim, mas creio que as nossas ambições devem ser colocadas em seu devido lugar. Temos que estar cientes que muitos dos nossos anseios não vão virar realidade e que não há nada de mal (o mal com “L” é proposital!) com isso.

-x-

Faço aqui um Post Scriptum para parafrasear versos de Poesia Titânica:

“Nenhuma idéia (sonho) vale uma vida.
O Evangelho não é uma idéia, é uma Pessoa!
A troca feita na cruz não foi de uma Vida por uma idéia (ou ideal).
Foi uma Vida por várias vidas!”

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Beija eu, Seja eu…

“Sede unânimes entre vós; não ambicioneis coisas altas, mas acomodai-vos às humildes; não sejais sábios em vós mesmos” (Romanos 12:16)

Pessoas que professam um mesmo credo, seja ele político, ideológico ou religioso, costumam enxergar o mundo por um prisma em comum, assim, é de se esperar que os cristãos, ou melhor, as pessoas que se dispuseram a seguir o exemplo e os ensinamentos de Cristo, vejam a vida através das lentes da cosmovisão cristã.

Eu aceito a afirmação supracitada como uma verdade simples e auto-evidente, mas também não acho inconcebível que duas pessoas que bebem de uma mesma fonte de fé cultivem pontos de vistas dissonantes.

Não me entendam mal, minha intenção não é relativizar a fé ou a doutrina cristã, eu creio que existem questões basilares, que se não forem bem aceitas, levam o indivíduo a viver uma religião descaracterizada e/ou pervertida, ao passo que, existem matérias que podem entrar em pauta sem que para isso alguém precise cometer um pecado ou incorrer em heresias.

Acredito que os cristãos da era apostólica tinham esta mesma compreensão, pois, celibatários viviam em paz com pessoas casadas (1 Co 7:1, Mt 8:14), vegetarianos comiam ao lado de carnívoros (Rm 14:6), abstêmios trocavam experiências com apreciadores de vinho, etc…

Assim sendo, lanço as seguintes indagações: Por acaso não é pertinente a um crente desenvolver senso crítico? Não é conveniente que um homem de fé tenha suas próprias opiniões?

Arrisco dizer que a réplica de grande parte dos atuais líderes cristãos para ambas as perguntas seria um sonoro NÃO!

Estes arroubos de autoritarismo não são desencadeados somente pelo receio de perder o controle sobre o rebanho, pois, existem fatores históricos e culturais que levam a maioria dos detentores do poder a agirem desta forma.

A igreja, assim como toda sociedade ocidental, foi fortemente influenciada pelo dualismo helênico de Platão, o que nos leva a enxergar quase todas as coisas em pares equivalentes e opostos: Preto e Branco, Fé e Razão, Sagrado e Mundano, etc…

Por causa disso, toda opinião contrária é automaticamente classificada como maligna. A consequencia imediata disto é o empobrecimento cultural e a instituição do obscurantismo e do conformismo como sinais de uma fé saudável.

Afinal, é possível viver integrado a uma comunidade e ainda assim manter a individualidade? Eu creio que sim, até porque, estas duas coisas não ocupam hemisférios distintos do meu cérebro. Mas a maioria dos cristãos insiste em ver a Igreja pela ótica fordista:

“O cliente pode ter um carro pintado com a cor que desejar, contanto que seja preto.” (Henry Ford)

ou seja:

“Nós te aceitamos da forma que você é, contanto que você passe a se vestir, falar e andar como nós”

Por fim, como integrante do bando das “ovelhas negras” (que fazem questão de permanecer no aprisco do Bom Pastor), reafirmo que não estou propondo a negociação do inegociável (aspectos fulcrais da fé), e sim, que todos ponham em prática o principio da alteridade, que é a capacidade ou qualidade de “ser” o outro, entender seus anseios e dores (seja eu), e ama-lo (beija eu) apesar deles.

Seja eu!
Seja eu!
Deixa que eu seja eu
E aceita
O que seja seu
Então deita e aceita eu…

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O Ser cristão

Creio que por ocasião da proximidade do dia 31 de outubro, aniversário da Reforma Protestante, alguns irmãos começaram a postar suas mensagens no Twitter acompanhadas da hashtag #OrgulhoDeSerCristao. Um outro grupo no entanto, passou a discordar destes primeiros, achando que nada que se refira a “orgulho” combina com o “ser cristão”. A despeito desta discussão, passei a meditar sobre o que é “ser cristão” de fato.  Em um passado não muito distante, eu enumeraria facilmente um sem número de traços que caracterizam um “cristão”, hoje contudo, tenho mais perguntas do que respostas…

  • Cristão é alguém que faz uso da Bíblia…

Acho que não, pois outros grupos religiosos, como os Espiritas Kardecistas, fazem uso da Bíblia em diversos níveis.

  • Cristão é alguém que admira e procura seguir o modelo de Cristo…
Mais uma vez, não acho que esta propriedade defina alguém como cristão, pois existem ateus menos preconceituosos que creem na existência do Cristo histórico e procuram seguir, de alguma forma, o Seu exemplo moral.
  • Cristão é alguém que crê na divindade de Cristo…
Aceitar a plena divindade de Jesus (Colossenses 2:9), assim como entender que Ele veio como homem mortal (2 João 1:7), são coisas importantes para fé cristã, todavia, alguns seguidores de cultos afro-brasileiros também acreditam na “divindade” de Cristo.
  • Cristão é alguém que não tem vícios…
Não creio que isto por si só distingua alguém como cristão, pois existem vários grupos ascéticos e movimentos sócio-culturais como o Straight Edge, que propõem uma vida livre de drogas, sejam elas lícitas ou ilícitas. Tal abstinência na maioria das vezes não tem motivação religiosa, e sim, ideológica. No outro extremo, vemos homens como Charles Spurgeon, que fumava, e C. S. Lewis, que costumava participar de animadas reuniões em um típico pub inglês, regadas a quantidades nem sempre moderadas de scotch. Estou convicto de que o exemplo do apóstolo Paulo (1 Coríntios 6:12) deve ser acatado e seguido, mas certamente, ter ou não vícios não faz de você um cristão.
  • Cristão é alguém que vive em santidade…
Sei que Deus nos chama a santidade (1 Pedro 1:15), entretanto, monges budistas e rishis indus podem facilmente ser classificados como “separados deste mundo”…
  • Cristão é alguém que ama…
Acho uma temeridade crer que todas as pessoas não cristãs do mundo são privadas deste sentimento, ponto.

Diante disto, compreendo que se faz necessário recorrer as origens da palavra “cristão”. Esta denominação foi dada pela primeira vez a alguns discípulos de Jesus que pregavam o Evangelho em uma região conhecida na antiguidade como Antioquia, na atual Turquia.  A grosso modo, a palavra “cristão” designa alguém que é um “pequeno Cristo” ou uma “imagem de Cristo”.

É maravilhoso constatar que este epíteto não teve origem entre os próprios seguidores de Cristo. Outras pessoas que não partilhavam da mesma fé, viram nas vidas daqueles crentes o transbordar do Espírito de Jesus!

E como este “transbordar” se manifestava? Pois apesar dos recentes apelos a uniformidade – de como devemos nos vestir, falar e agir – os próprios apóstolos nos forneceram um exemplo vivo da diversidade humana que existia na igreja primitiva.

Finalmente, acredito que o Senhor nos amou primeiro (1 João 4:19), outrossim, estou certo que o “ser cristão” vem de Deus para o homem (1 Tessalonicenses 1:4), e por este motivo, não é algo que possa ser quantificado, qualificado e muito menos, “reproduzido”.

“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus.” (Efésios 2:8)

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